quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Veja como foi: Palestra do Bruno Ramos Mangualde no dia 10/11

O palestrante Bruno que trabalha na Secretaria do Tesouro Nacional abordou em sua palestra o tema Contabilidade Pública. Primeiramente, contextualizou as Reformas Contábeis. Em seguida, falou sobre as entidades normativas. Posteriormente citou os reflexos fiscais no contexto atual. Por fim, discutiu a formação acadêmica dos profissionais do campo.

Sobre a contextualização Bruno afirmou que a contabilidade pública, ao contrário da contabilidade empresarial, é fortemente amparada pelo regime de caixa , onde as despesas são contabilizadas pelo desembolso, ou seja, saída de caixa e a receita pelo ingresso. Não consiste em um conceito econômico, pois não captura pelo fato gerador e sim pelas entradas e pelas saídas. Os governos trabalham com esse sistema por dois motivos, o primeiro, porque é mais fácil e o segundo porque muitas vezes os relatórios fiscais assim pedem.  Porém esse regime tem um problema, não captura fenômenos de fundo econômico, endividamento e passivos por competência.  Assim, no contexto internacional começaram a surgir algumas reformas, em um contexto maior chamado de New Public Management (Novo gerenciamento público)e é nesse cenário que eles procuraram agregar no setor público,  práticas de gestão do setor privado. Isso surgiu em particular, na Austrália, na Nova Zelândia e posteriormente no Reino Unido. Tentaram administrar o setor público (o Governo) tal como empresas eles fossem. Tinham a ideia de práticas usadas em empresas faziam uma melhor gestão dos recursos. Entendiam que a contabilidade comercial dava mais substância a informação contábil. Então agora, capturam-se passivos por competência, como por exemplo, férias, 13º, mesmo  antes do pagamento. Captura créditos por competência, recebíveis e a receber.  A partir daí é possível estabelecer uma série de indicadores. O pioneirismo se deu nos países anglo-saxões e isso tende a se espalhar pelo mundo todo, ainda que exista uma série de resistências. Vale ressaltar que é de grande complexidade o alcance a todos os países.
Um dos reflexos na contabilidade é a adoção do Regime de Competências que consiste no registro dos fenômenos no momento em que eles ocorrem independentemente das entradas ou das saídas, registra obrigações e recebíveis, independente de aspectos orçamentários. Baseia-se na adoção de práticas utilizadas no setor privado. Com isso, surgiu no âmbito internacional, um grupo, financiado por governos centrais aos moldes da ONU, que é a Federação Internacional dos Contadores, com sede em Nova York. Tem um comitê que edita normas contábeis do setor público, que são as IPSAS. E essas normas têm bases nas IFRS que são as normas do setor privado. Tais normas foram elaboradas e editadas, no sentido de promover um enquadramento/padronização dos governos. Houve então uma pressão de alguns organismos internacionais, basicamente, do FMI e da Federação Internacional dos Contadores. Argumentavam que com reformas nesse sentido, de registro de passivos e ativos por competências, seria feita a prevenção de crises, o endividamento melhor gerenciado, haveria uma melhoria da performance, por exemplo, anteriormente o setor público não fazia o registro das depreciações.  Dessa forma, a reforma visou a promoção e o ajuste dos governos a esse novo regime contábil, que dentre outras coisas ajudou e promoveu a prevenção de crises, a visão de longo prazo, a melhor gestão de ativos, a melhora na performance, a melhora no processo de tomada de decisão, a melhora na accountability, a redução das práticas de contabilidade “criativa”, o subsídio à contabilidade dos custos, a evidenciação  dos passivos orçamentários (aqueles que não passam pelo orçamento), a melhor comparabilidade da informação contábil, a informação estruturada para usuários internos e externos.


Contudo, existem alguns argumentos contrários às reformas contábeis, são eles: menor controle pelo parlamento, dificuldade em contabilizar ativos de infraestrutura militares, ativos do patrimônio histórico cultural, ativos naturais (já que muitas vezes podem ser passivos e não ativos – consomem mais caixa do que geram), alto custo benefício, perda de soberania, complexidade e limitação de recursos (TI, humanos etc).
O palestrante afirma que a contabilidade deve registrar aquilo que está acontecendo. Ela nada mais é do que uma forma de registro das transações que afetam o patrimônio. Ainda com a existência desses argumentos contrários, a tendência é de um aumento da prática do regime de competências no setor público.
Alguns países ainda praticam o regime de caixa e outros possuem o chamado regime de competências parcial – uma espécie de “transição” onde os registros não são realizados a partir do fato gerador, como é o caso do Brasil que possui uma cultura altamente orçamentária. Os países anglos saxões usam totalmente o regime por competências. Os países podem ser classificados como tendo, alto baixo e médio nível de desenvolvimento dos sistemas contábeis. A reforma para introdução do sistema por competências é gradual e envolve uma mudança de cultura na administração pública
Grande parte das pessoas acredita que fazer é executar o orçamento, que só executa aquilo que está empenhado. Mas essa não é a verdade. É possível assumir obrigações sem que elas estejam previstas no orçamento. É possível assumi-las antes da execução orçamentária, em situações plenamente justificáveis. Assim, o papel da contabilidade é o de registrar aquilo que ocorreu quando ocorreu.
Acerca das entidades normativas, Bruno afirma que a de maior expressão é a International Federation Of Accountants (IFAC) que edita as normas contábeis referentes aos padrões éticos da profissão ao setor público (IPSAS), à qualidade, à auditoria e à formação educacional.  Tem sede em Nova York e representantes no Brasil – CFC e IBRACON. A IFAC não se restringe ao setor público, trata de assuntos educacionais, de transparência, ética etc. Realiza os ajustes do regime de competências para o setor público.
Para o setor privado, há o International Accounting Standard Board (IASB) entidade que edita as IFRS, normas usadas no setor privado do mundo inteiro. Padrões contábeis (Europeu/mundial). Também tem um representante no Brasil que é um economista.  


Além disso, há o Financial Accounting Standards Board (FASB) que é um padrão americano. Vale ressaltar que o padrão europeu (IFRS) prevaleceu e foi adotado por mais países. O cenário internacional atual aponta para uma convergência entre IASB e FASB.
No âmbito do Brasil, as principais entidades são: Secretaria do Tesouro Nacional (relacionado principalmente a LRF), o Banco Central do Brasil, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), Comissão de Valores Imobiliários (CVM), e outros (SUSEP, MPS, SPC/PREVIC, RFB etc). Vale ressaltar que as normas são sempre adaptadas as leis do país em que são introduzidas.
Assim, verifica-se que existem inúmeras entidades. O palestrante afirma que é tanta gente normatizando que há a necessidade de se colocar ordem nesse caos. Assim, o palestrante apresenta um fluxograma (Slide 16) que ilustra como ocorrem as normatizações no setor público e no setor privado, destacando as principais entidades envolvidas.  
Acerca do contexto fiscal, e aqui o palestrante o limita à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), ele afirma que o marco contábil surgiu em um contexto anterior às reformas contábeis. Dado que, o principal instrumento para controle é a LRF e que a LRF surgiu em um contexto de “contabilidade orçamentária” e que estavam ocorrendo alguns ajustes atuais nos procedimentos contábeis, havia uma necessidade de ajuste nos entendimentos fiscais vigentes atualmente no Brasil. A LRF surgiu em 2000.


Os aspectos fiscais que merecem atenção são: Registro por competência – impacto em limites fiscais (LRF) da Despesa \ DCL – Passivo atuarial, Passivo de Parcerias Publico Privadas, e Passivos diversos por competências. Há uma necessidade de reforma nesse sentido, já que no momento em que se registra, o passivo aumenta e os limites de gastos na LRF são ultrapassados. Pois quando foi criado não havia registros por competências. Registro por competência – Impacto dos limites fiscais (LRF) da receita RCL – Receitas por competência: capacidade de endividamento e gastos com pessoal. Há a necessidade de passar do registro de dados orçamentários para registro de dados contábeis. Impacto em demonstrativos fiscais – mapeamento realizado com base em registros orçamentários.
Acerca da formação acadêmica o palestrante afirma que a universidade prepara mal os potenciais colaboradores para o setor público. O papel da Universidade deveria ser o de fomentar a preparação dos alunos para o mercado, já que aborda o ensino, a pesquisa e a extensão.

Por fim, Bruno afirma que para uma atuação efetiva no setor público, as principais matérias que o profissional deveria ter conhecimento são: Finanças públicas, normas internacionais, contabilidade aplicada ao setor público, administração orçamentário-financeira, responsabilidade fiscal e visão operacional (laboratório contábil). Para cada tema, Bruno apresenta os principais assuntos que devem ser abordados dentro de tais temas para uma boa atuação de um profissional no setor público. 


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