segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Veja como foi: Palestra do Marcelo Barros Gomes no dia 13/10

O palestrante, que é auditor federal de controle externo do Tribunal de Contas da União (TCU), iniciou sua palestra falando sobre o documento de prestação de contas governamental (da Presidência da República), que consiste em um documento sistêmico e estratégico sobre a atuação governamental, que ajuda a entender mais sobre as políticas públicas, a administração pública e sobre o orçamento. Marcelo diz ainda que a palestra dele não está baseada neste documento, mas que ela ajudará a entender bastante sobre accountability. Sobre as referidas contas, é possível consultar no site www.tcu.gov.br/contasdogoverno.



Acerca da capacidade de accountability do Estado Brasileiro, o palestrante falou que ainda é muito baixa, afirmou que se entrarmos na página do Congresso Nacional, vamos verificar que há nove contas de governo não julgadas pelo Congresso. É o único documento que o Tribunal de contas não julga diretamente, apenas realiza um parecer prévio que é entregue para julgamento do Congresso. Caso as contas do Presidente em análise sejam julgadas irregulares, ele perde o seu mandato.
No Brasil existe esse déficit de julgamento pelo parlamento das contas do Presidente. A democracia aqui é um processo de lenta maturação e de ganhos lentos. O palestrante afirma ainda que a nossa capacidade (do Brasil) de construir instituições sólidas ainda é fraca.
Sobre o tema da palestra, Marcelo iniciou a explicação sobre valor público, citando a existência de um livro de Mark Moore sobre como criar valor público, falando ainda do papel do agente público. Acerca de valor ele explicou a diferença entre público e privado, onde valor no setor privado pode ser medido através de lucro ou prejuízo, mas e no setor público? Como criar valor público? Ele está no interesse público (leis e regulamentos)?  Nas demandas?  
Marcelo afirmou ainda, que a questão de como mensurar ou criar valor público é complexa. Como podemos criar valor publico? Em que medida os processos governamentais garantem essa criação de valor público?



A administração pública é uma ciência junto com o governo que requer uma visão multidisciplinar extraordinária para quem quer entender melhor o fenômeno da política. É necessária, dentre outras coisas, a capacidade de um bom leitor e de um bom analista de políticas públicas de analisar a criação de valor público. Esse agrupamento de visões ajuda a entender melhor o fenômeno público. É necessário criar essa visão sistêmica e holística baseada na multidisciplinaridade.
Sobre o Estado, o palestrante questionou o público sobre que ente é esse, afirmando ainda que o Estado pode ser visto, para simplificação, como uma empresa. Com o PIB brasileiro em 2013 percebemos que o orçamento público foi de 2 trilhões, verifica-se que é muito grande e por isso a gestão pública é de grande relevância. Pois ela que fornece os parâmetros, já que é de grande complexidade, a identificação da qualidade do gasto, sua classificação e mensuração.  
Marcelo explicou os gráficos presentes nos slides, ressaltando que o orçamento federal é 50% do PIB, 17% do total do orçamento é para investimentos, que consiste em um percentual muito baixo. Afirmou ainda que do orçamento emprenhado anualmente para investimento, 66,7 milhões foram investidos e apenas 6% das despesas primárias foram investidos. E por isso ele afirmou que o orçamento no Brasil pode ser chamado de uma peça de ficção. A melhor performance de aproveitamento do orçamento foi a do Ministério da Defesa.

O palestrante afirmou que o que está acontecendo no sistema é: a incapacidade sistêmica no gerenciamento das politicas públicas setoriais e a ausência de planejamento e orçamentação adequada que orientem as despesas públicas.
Pode ser que não esteja sendo empenhado e não liquidado as despesas e sim passando elas para o próximo exercício, gerando um ciclo vicioso e restos a pagar.       Verifica-se um problema sistêmico, um problema de governança pública grave. Pois como será possível planejar se não há um sistema eficiente de orçamentação? Isso consiste em um fenômeno. Outro fenômeno é o aumento expressivo de restos a pagar por ausência de um bom planejamento orçamentário, ressaltando ainda a existência de decretos que interferem na existência destes restos a pagar. E tudo isso impacta na existência dos superávits primários.  
Outra questão que aparece é o crescimento do PIB em um cenário que revela a falta de planejamento. Estamos correndo atrás de um desenvolvimento sustentável.  Questões ligadas ao planejamento, a boa governança e a capacidade de acompanhamento orçamentário. Tudo isso relacionado ao PIB, ao problema da balança comercial, da inflação, do crescimento da dívida bruta e ao fato da carga tributária não diminuir. Relacionado a este último fato, o palestrante afirma que o impacto social não permite a redução da carga tributária, pois as demandas sociais não diminuem, apenas aumentam.
Sobre a gestão fiscal ele falou sobre a pedalada fiscal, a ausência de credibilidade das contas públicas e sobre qual superávit primário é perseguido pelo governo.
Sobre o resultado primário, Marcelo disse que significa o quanto o governo pretende economizar para reduzir a dívida. É o compromisso do governo em economizar. Nesse cálculo, descontam-se desse compromisso, as despesas do PAC- despesas maiores – pois se trata de uma despesa que gera um retorno maior.  Nessa ótica, ainda há de se considerar, outras receitas, receitas não recorrentes ou receitas extraordinárias. As receitas não recorrentes e não usuais – que consiste, por exemplo, em receitas de negociação de dívida ativa. Além disso, o Estado começa a antecipar receitas, antecipa um serviço que vai prestar futuramente, por exemplo, receitas de concessão ou quando alguém integraliza seus dividendos para o governo de forma antecipada.  E considerar também os restos a pagar.  
Essas são algumas operações atípicas, pedaladas ou não recorrentes, conhecidas pelos analistas como maquiagem.   
Outro fenômeno do orçamento é a renúncia de receitas ou gasto tributário, que é quando o governo deixa de arrecadar um tributo, chamada de renúncia fiscal, como por exemplo, o IPI zero. Consiste em um fomento ou subsídio, para aumentar as receitas do setor – incentivo fiscal. Há ainda as renúncias creditícias e financeiras. O problema com esse fenômeno é que como o governo recolheu menos, o FPE e FPM que são despesas obrigatórias, acabam recebendo menos, o repasse é menor.

Outro problema de orçamento que devemos ter em mente é a questão da desigualdade regional, que está vinculada a três fatores, hoje: acesso a inovação (ciência e tecnologia), educação de qualidade e oferta de infraestrutura. Dessa forma, o orçamento deve fornecer condições para que políticas públicas sejam desenvolvidas no sentido de redução da desigualdade regional, se baseando nos três fatores citados.
Para as contas de governo desse ano, estão desenvolvendo uma discussão sobre a governança pública – ou seja, a capacidade do estado de fornecer políticas públicas e melhorar a qualidade do gasto público. O Tribunal está realizando um diagnóstico sobre o que se tem que fazer, realizando uma comparação entre o estado atual e o futuro esperado (conforme quadro comparativo apresentado nos slides). Melhorando a governança, melhora a possibilidade e a probabilidade de criar valor público.
E é nesse cenário, apresentado nos slides que se insere o papel do controle, para a melhoria da governança e da criação de políticas públicas. O controle é visto como aperfeiçoador dos sistemas estruturantes, governo, orçamento e regulação, gestão e avaliação, para que possa viabilizar um ciclo virtuoso de políticas públicas no Brasil.
Acerca da melhoria da governança pública, Marcelo citou a existência de 3 produtos – apresentou o quadro referencial de boas praticas de governança, disponibilizado nos slides. (Para melhor entendimento da apresentação do slide, vale ressaltar que EFS significa entidade de fiscalização superior).  Afirma ainda que governança está relacionada a: estratégia, governo aberto e transparente, instituições sólidas e processos eficientes e eficazes.
Sobre o controle na Administração Indireta, o palestrante apresentou um quadro com avaliação da governança das agências reguladoras, afirmando que após 12 anos de existências das agências reguladoras, de todas as agências, apenas uma tem planejamento estratégico completo.   O que em grande parte está relacionado à internalização da análise de impacto regulatório, já que a maioria das agências não realiza esta análise. Além desses fatores, o palestrante mostrou análises relacionadas à vacância de dirigentes, à transparência e ao planejamento e ao índice de maturidade de avaliação de programas governamentais, onde afirma que aqui existem duas dificuldades, o primeiro é que não existe um modelo sistemático de avaliação de programas no Brasil, outro é que existe uma alta rotatividade na gestão dos processos, não há um histórico e nem avaliadores que ficam por um prazo maior, renovação muito alta.  
Acerca da gestão de risco na administração pública, Marcelo ponderou que se esperava que na administração indireta essa gestão fosse muito maior, já que se trata de entidades que lidam muitas vezes diretamente com o mercado.  A pesquisa apresentada pelo palestrante mostrou que somente 5 das entidades analisadas tinham um modelo de gestão de riscos. Marcelo afirmou ainda que esse modelo de gestão de riscos não é aplicável à administração direta, pois neste tipo não há gestão de riscos.
Por fim o palestrante explicou o que se espera com essa atuação do controle, na ótica da administração pública e na ótica do TCU.  
A mensagem final proposta por Marcelo fala que o controle do Brasil está deturpado, com uma visão mais de auxílio, focada no processo e não com a visão voltada para resultado e entrega para a sociedade. Que é necessário realizar esta mudança de foco.
E complementa com algumas indagações que devem ser feitas relacionadas ao orçamento, controle e a geração de valor público, como, por exemplo, foi feito de forma correta? Que ações devem-se adotar para mitigar riscos? Trata-se de ações preventivas? Para que, Com que intenção, a que custo, com que resultados, eu quero criar e autorizar o orçamento para as minhas políticas públicas em um dado momento?
Finalizou, falando sobre a herança de Portugal relacionada à cultura de processos – a qual precisa ser superada, focando na avaliação de resultados e na accountability dos resultados. Faz-se necessário a superação desses paradigmas, não se deixando de lado os legados institucionais relevantes, é claro. CLIQUE AQUI para ver os Slides do Seminário.

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